24/02/2017
MISSÃO NO CORAÇÃO DA AMAZÔNIA: TESTEMUNHO MISSIONÁRIO DO SEMINARISTA ZORENILTON
A tão sonhada missão no coração da Amazônia aconteceu.
Para o Zorenilton, esse que vos fala, trata-se de um sonho que surgiu há cinco anos quando estava no meu segundo ano de formação. Certo dia estando eu folheando uma revista missionária me deparei com um belíssimo testemunho de um seminarista relatando sua experiência missionária em uma determinada região da Amazônia. Desde então, comecei a pesquisar onde e como poderia participar de uma experiência semelhante àquela que o jovem vocacionado ao sacerdócio havia participado.
Em 2015 pelo envio do Bispo de nossa diocese (Bom Jesus do Gurguéia) Dom Marcos Tavoni e acolhida de Dom Esmeraldo Farias tive a oportunidade de participar da III experiência missionário realizada na Arquidiocese de Porto Velho, foi uma experiência espetacular. Éramos mais de 100 "missionaristas" vindos de várias regiões do Brasil. Ali o Espírito Santo agiu! E continuou a agir! Em 2017 por inspiração do Espírito Santo surgiu o projeto missionário "no coração da Amazônia", em que os seminaristas do Regional Nordeste 4 se colocaram a disposição para participar de um mês missionário na Prelazia de Borba - AM.
A missão foi organizada pelo Seminário do regional NE4 Sagrado Coração de Jesus, pela Prelazia de Borba e pelos COMISES (Comissão Missionária de Seminaristas) do regional Nordeste 4 e Norte 1. Do Piauí fomos doze seminaristas e dois padres formadores. Foi um mês de muitas aventuras missionárias. Posso afirmar com certeza que foram os dias de férias mais proveitosos que já tive. Tivemos a oportunidade de conhecer de perto a cultura, os biomas, a religiosidade e, sobretudo as famílias. Foram milhares de "guias missionários" que nos acompanharam durante esses dias de missão, crianças, jovens, adultos, idosos, todos entraram nessa "onda missionaria" conosco.
Conduziram-nos por ar, terra e água. Afirmo-lhes que foram dias de uma profunda experiência familiar. Encontro com Cristo! Foram quatro semanas, cada uma marcada por uma palavra chave: encontro, caminho, amizade e envio. Pelo caminho fomos desapegando das coisas matérias, deixando para traz aquilo que nos atrapalharia na missão inclusive atitudes que nos pareciam virtudes quando na verdade eram empecilhos para o encontro. Fomos ao encontro de milhares de pessoas que nos marcaram profundamente e com elas fizemos boas amizades.
O RETORNO SEMPRE NOS DEIXA MARCAS
Iniciamos nossa partida missionária do Coração da Amazônia ao Coração do Piauí. Andamos nas diversas velocidades, da mais rápida a mais lenta, do ritmo do ar a velocidade das águas. A harmonia de envios, ritmos, velocidades, caminhos, amizades e etc, nos proporcionou uma espetacular experiência do reencontro com Jesus no Coraçãoda Amazônia por meio de muitos encontros que tivemos por aqui. De casa em casa, de porta em porta, de pessoa em pessoa fomos ao encontro de quase todos que nos foramconfiados. Nem mesmo a distância foi empecilho para o encontro. As águas nos proporcionaram chegar desde os mais próximos aos mais distantes. Chuva por aqui é sinal de que o missionário pode chegar às aldeias mais longínquas. A canoa, a rabêta, a lancha, o barco foram nossos principais meios de transporte nesse mês.
Em cada cidade, distrito, vila, comunidade ribeirinha, aldeia, presídio, família, campos e quadras de futebol, uma nova forma calorosa de acolher, de se apresentar, de alimentar, de rezar, de andar, de partilhar, de falar, de correr e em todas elas lá estava ele a nos esperar, Jesus. No sorriso das crianças, no tímido jeito de ser da juventude no primeiro contato, na afetuosa acolhida dos chefes da família, nas histórias dos mais experientes, nas danças culturais da região, na convivência "engraçada" e acolhedora com os padres da prelazia, no feliz caminho vocacional dos seminaristas da Amazônia, na presença humilde e amiga do Bispo, na acolhida das famílias, na doação e disponibilidade de pessoas que se colocaram a disposição para fazer as nossas refeições e nos acompanhar nas visitas, em tudo isso percebemos o quanto a igreja na Amazônia é comunhão e partilha. É por excelência missionária!
O missionário que vem para Amazônia - que parte em missão – deve compreender bem o sentido da palavra 'pertença', saber que pertence a uma Igreja particular da qual e pela qual foi enviado, mas, sobretudo saber estar, ficar, mesmo que seja somente uma semana, quinze dias, um mês. Saber entrar na casa das pessoas e fazer parte da família mesmo que seja por alguns minutos. Saber entrar na cultura desse povo tão rico, saber que na missão tudo é oração e com ela o missionário sobrevive.
Neste mês de uma riqueza cultural e espiritual esplêndida, estivemos sobre a ação e providência do Espírito Santo. Em nenhum momento nos sentimos desamparados, sem dúvida o Espírito Santo é o protagonista da missão.
Um dos elementos fundamentais que buscamos dar privilégio nessa experiência missionária - em nossas "andanças" pelas ruas, pelas linhas, pelos rios, pelos hospitais, presídios, escolas, comunidades ribeirinhas, aldeias...- foi o verbo "ESCUTAR".
Tivemos a consciência de que antes mesmo do missionário chegar em missão, Deus já
estava agindo na vida de cada um. A Igreja de Cristo nasce missionária e jamais deverá
perder de vista esta dimensão. A oportunidade de entrar na casa de muitas famílias significou para mim o adentrar na vida de tantas pessoas. O exercício da escuta com a atenção a história de vida de cada pessoa possibilitou não somente admiração pela força para enfrentar as dificuldades, mas também a descoberta da ação de Deus na vida de cada um e a luz para a minha vida vocacional. O testemunho dos animadores (as) das comunidades e de outras pessoas deixou grande marca na vida de cada um de nós.
Com o olhar atento vimos diversas realidades. Percebemos os grandes desafios e situações que aquele povo vive e que muitas vezes clama por socorro. Recordo-me, por exemplo, das riquezas naturais como a silvinita e o petróleo que para serem extraídos milhares de vidas necessariamente deverão ser destruídas, inclusive humanas. O agravante é ainda maior quando se tem conhecimento de que boa parte dessas riquezas naturais está em reservas indígenas, e se torna mais queixosa ao saber que por vezes os políticos “lavam as mão” frente a essa situação. Alias, são eles os principais incentivadores. Diante dessa situação ouvimos várias vezes a voz profética de pessoas afirmando que a Igreja católica juntamente com outras entidades estão unidas para levantar a bandeira em defesa da vida.
Percebemos ainda, a natureza com sua fauna e flora nos presenteando com seu espetáculo dia e noite; convivemos com a porção da Igreja situada naquela região; conhecemos comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas; notamos a influência dos migrantes, e dos nativos naquele chão; percebemos carismas diferentes, formas diferentes de viver a fé, ou ausência de qualquer forma de viver a fé. Isso foi realmente encantador, e ao mesmo tempo se traduziu em um mês com sentido de comunidade tão forte que ficou o desejo de retornar na próxima missão em 2019.
Manifesto minha eterna gratidão a Deus pela companhia missionária. Aos seminaristas e padres formadores do nosso regional, aos padres, seminaristas, jovens vocacionados, lideres de comunidade e administradora paroquial da prelazia de Borba minha gratidão pelo encontro, pelo caminho, pela amizade e pelo envio que resultou em um sentido de convivência eclesial tão profundo e orante. Ao meu bispo, pelo incentivo e envio, e por ser missionário conosco, ao Dom Elói e Zenildo pela acolhida missionaria, eterna gratidão.
Na certeza de que missão é sair e, sobretudo sair de si mesmo estou retornando ao Piauí para dar continuidade a missão. Levo a Amazônia no coração, sobretudo os amazonenses que fizeram e estão fazendo parte de minha/nossa história.
Que abriram as suas portas para acolher pessoas “desconhecidas”. Com grande alegria lhes afirmo que estamos de portas abertas para acolhê-los no Piauí em Janeiro de 2018.
Serão bem vindos entre nós!!!
Deus proteja a todos que direto ou indiretamente estiveram em missão conosco.
Missionários de todo o mundo que nos acompanharam pelos meios de comunicação,
mas, sobretudo pela oração, a vocês, meu cordial abraço.