17/06/2019

Um grupo de executivos do setor energético assinou um termo de compromisso no Vaticano reconhecendo a necessidade de conter o aquecimento global e minimizar suas consequências. Em comunicado publicado nesta sexta-feira (14) pela Santa Sé, eles dizem que é preciso "manter o aquecimento global abaixo de 2º C, e contudo ainda avançar na prosperidade humana e econômica".

Entre os CEOs estavam representantes de gigantes como Eni, Exxon, Total, Repsol, BP, Shell, Sinopec, ConocoPhillips, Equinor e Chevron.

Além disso, representantes das gigantes do setor energético reconheceram que são necessárias "mudanças radicais em todos os níveis" para realizar uma transição que envolva o "apoio dos mercados na adoção de combustíveis renováveis como fonte de energia".

Compromisso assinado pelos executivos

Reunidos em um congresso de dois dias organizado pelo Vaticano, os executivos refletiram sobre como realizar a transição energética para fontes mais limpas, o que inclui o tema da precificação do carbono. A maioria dos executivos presentes assinou um termo de compromisso que diz:

"Como líderes do setor energético, da comunidade global de investimentos e outras organizações, nós reconhecemos que uma aceleração significativa na transição para um futuro de baixo carbono além das projeções atuais requer uma ação sustentada e de grande escala, além de soluções tecnológicas adicionais para manter o aquecimento global abaixo de 2º C, e contudo ainda avançar na prosperidade humana e econômica."

Os signatários do documento concordam com o estabelecimento de regimes de precificação do carbono, seja com base em taxas, mecanismos de trocas ou outras medidas de mercado. Eles avaliam que esses instrumentos devem ser criados pelos governos, de forma a incentivar os investimentos, a pesquisa e o consumo sustentáveis.

"Isso requer um novo nível de liderança cooperativa", afirma o texto. "Nós assumimos este desafio."

O encontro a portas fechadas foi o segundo do tipo na Academia de Ciências do Vaticano. O primeiro foi em 2018 e teve ampla repercussão internacional. Além de executivos do setor, estiveram presentes estudiosos, representantes do setor financeiro e de tecnologia.

Preço do carbono

Em encontro com os participantes, o Papa Francisco disse nesta sexta-feira que estabelecer um preço para emissões de carbono é "essencial" para conter o aquecimento global – sua declaração mais clara até hoje em apoio à penalização de poluidores – e apelou para que os descrentes da mudança climática ouçam a Ciência, segundo a agência Reuters.

A fixação de preço para emissões de carbono, seja por impostos ou esquemas de troca de emissões, é usada por muitos governos para fazer os consumidores de energia pagarem pelos custos do uso de combustíveis fósseis, que contribuem para o aquecimento global, e para fomentar o investimento na tecnologia de baixo carbono.

 

Um grupo pequeno de manifestantes se reuniu diante de um portão do Vaticano. Um deles exibiu um cartaz dizendo "Queridos CEOs do Petróleo: Pensem em Seus Filhos", informou a Reuters.

Francisco, que fez muitos apelos pela proteção ambiental e se contrapôs a líderes como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a respeito da mudança climática, disse que a crise ecológica "ameaça o próprio futuro da família humana".

Ele criticou implicitamente aqueles que, como Trump, negam que a mudança climática seja causada sobretudo pela atividade humana.

"Durante tempo demais, fracassamos coletivamente em ouvir os frutos das análises científicas, e as previsões apocalípticas não podem mais ser encaradas com ironia ou desdém", disse o Papa.

Os debates sobre mudança climática e transição energética precisam se basear na "melhor pesquisa científica disponível hoje". No ano passado, Trump rejeitou projeções de um relatório de seu próprio governo segundo o qual a mudança climática causará danos econômicos sérios à economia dos EUA.

"Diante de uma emergência climática, precisamos agir de acordo, de maneira a evitar perpetrar um ato de injustiça brutal contra os pobres e as gerações futuras", disse Francisco.

Fonte: G1.