24/02/2017

MISSÃO NO CORAÇÃO DA AMAZÔNIA ( 30 DE DEZEMBRO / 2016 a 30 DE JANEIRO DE 2017)
GENILDO GOMES DELMONDES

Empolgados nós dizíamos: do coração de Jesus ao coração da Amazônia. O COMISE (Comissão Missionária do Seminário) NE4, Seminário Sagrado Coração de Jesus-PI, COMISE LABONTE, Seminário Interdiocesano São José-AM apoiado pelas Obras Pontifícias Missionarias iniciaram-se os preparativos para a missão na Amazônia no decorrer do ano de 2016. No dia 29/12/16 às 19h foi celebrada a Missa de envio na Igreja Matriz Menino Jesus de Praga no bairro Saci em Teresina-PI. No dia seguinte, às 04:35h saímos do aeroporto de Teresina e chegamos a Manaus as 10:50h horário local.

Em Manaus fomos recebidos calorosamente pelos seminaristas e missionários do Amazonas bem representados pelo Jair e Paulo, integrantes da equipe organizadora da missão. Pelo Pe. Cleuto representando os demais padres e a administradora paroquial, pelo Bispo Coadjutor Dom Zenildo, que deu exemplos inspiradores de humildade, acolhimento e incentivador das vocações e um bom Pastor missionário. Ele que representou com excelência o Bispo titular Dom Elói que não pôde está presente na missão, contudo esteve em comunhão pelo apoio e oração.

As inspirações foram várias, os exemplos diversificados e as lembranças eternizadas em nossos corações. Muitos outros momentos poderiam ser citados, porém descreverei apenas alguns dos que mais me tocaram profundamente.
Antes de partirmos para o Distrito de Novo Céu uma jovem chamada Zípora amiga do Igor participou da Santa Missa conosco. Eu não sabia que ela era evangélica, mas desconfiava, pois alguns gestos ela não fazia, como o sinal da Cruz. Após o café da manha Zípora ajudou a nos conduzir até o porto onde pegaríamos a lancha rumo a Novo Céu. Lá estávamos sendo aguardados calorosamente pela Rejane e o Pe. Cleuto. Comemoramos a virada do ano ao ritmo nordestino, pois o Pe. Cleuto é também nordestino.

No dia seguinte pela manha despertamos ao som de vários pássaros que como um coral, louvavam a Deus por mais um dia e pela nossa chegada. Nós de igual modo pegamos nossas liturgias e nos juntamos ao coral da natureza rezando a oração da manhã. Após a oração o Igor leu o testemunho da Zípora postado no facebook relatando o quanto é bela a santa Missa, como éramos disciplinados e cantávamos muito bem os hinos, o quanto sentiu-se bem acolhida por todos nós e pelo padre que agradeceu a Deus pela sua presença missionaria, e pela alegria com que todos nós a tratávamos, sem preconceito, agressão verbal ou algum outro tratamento de indiferença por ela ser de outra religião. Relatava ainda a postura de muitos evangélicos de sua própria igreja frente aos católicos, acusando-os de idólatras, adoradores de imagem. O seu testemunho me tocou profundamente gerando em mim o firme sentimento de enraizamento de minha fé, de pertença e amor a Igreja católica e a Santa Missa. 

Outra experiência tocante que vivi e não posso deixar de relatar é a que passei na comunidade Santo Antônio, onde vivem povos ribeirinhos e indígenas que vivendo a beira do rio Canumã sobrevivem da pesca, caça e da pequena agricultura familiar. Nessa época do ano as coisas começam a ficar mais difíceis para eles, pois as caças ficam mais escassas e difíceis de serem capturadas. Por causa da cheia, a pesca também fica mais difícil, as terras que ficam no perímetro de alagamento são tomadas pelas águas e diminuem as áreas de plantio. Assim acontece a produção de alimentos.

Ao chegarmos nessa comunidade fomos bem acolhidos pelo capitão (representante da comunidade) e pelos representantes da Igreja local que nos hospedaram em suas casas. Foi quando nos apresentamos e falamos para não se preocuparem com alimentação, pois havíamos levado mantimentos para aqueles dias de missão. Um pouco mais tarde o Raimundo que conduzia nossa lancha foi para a cozinha preparar os nossos alimentos. Enquanto isso conversávamos com a senhora que nos acolheu em sua casa. Em sua partilha relatou que até aquele momento não haviam tomado café da manha e nem almoçado, falava ainda de sua netinha que estava fadigada pela fome, e constantemente a pedia comida, contudo nada tinha para alimentar ate aquela hora. A expectativa era pela chegada dos caçadores que desde cedo estavam na mata procurando as refeições para aquele dia.

Para mim foi muito impactante adentrar na realidade daquele povo ribeirinho que diante de tantas dificuldades para sobreviver abriram as portas de seus lares, dividindo o pouco que tem e celebrando a sua fé, em comunhão com a comunidade alegres e sem deixar que o desânimos os afastem de sua relação com Deus. Doeu meu coração ao lembrar que por vezes desperdiçamos alimentos em nossa casa. Fartando em nossas mesas e ainda assim reclamamos, ao invés de agradecer a Deus pelo pão de cada dia, fruto de nosso trabalho e dadivas divina.

É esse povo menos assistido que eu quero servir como futuro sacerdote e também aqueles que financeiramente não são bem remunerados. Muitos que se dizem ricos não são capazes de partilhar com os que menos possuem, são ricos materialmente e pobres de espirito. Elevo minha prece ao Céu para que os pobres de espirito sejam como os materialmente pobres, onde quase nada tem e tudo partilha.

Encerrou-se a missão no dia 29/01/17 na cidade de Nova Olinda do Norte – AM com a Missa de envio e leitorado de dois irmãos seminaristas da Prelazia. Pois a missão deve continuar brotando e fluindo no coração e na vida de cada um de nós que como cristãos e filhos de Deus somos chamados pela Igreja e como Igreja a exemplo do que diz o Papa Francisco “ser uma Igreja em saída”, indo ao encontro do outro nas mais diversas distancias e realidades. 

Manifesto minha gratidão ao bom Deus por me proporcionar vivenciar esse rica experiência. Aos seminaristas, padres, jovens vocacionados e todo o povo de Deus da Prelazia de Borba pela acolhida. Ao meu bispo, Dom Marcos Tavoni, que acolheu imediatamente meu pedido e incentivou-me a participar dessa missão, minha gratidão. Agradeço ainda ao Dom Zenildo pela companhia e acolhida.